(by Dan Harrington/Bill Robertie)
Harrington on Hold’emINTERPRETANDO OS SINAIS DO CORPO

No maravilhoso filme de poker “Rounders”, Teddy-KGB perde a compostura quando o personagem de Matt Damon descobre o seu “trejeito”, “tique nervoso”, ou seja, lá qual for o nome que você gosta de dar aos hábitos e manias físicas de seus adversários.

Se Teddy segurasse um biscoito recheado e o abrisse encostando-o em sua orelha, parasse e o comesse, ele teria uma mão monstruosamente forte. (Psicologicamente ele estaria devorando seu adversário). Se ele apenas ouvisse o barulho que o biscoito fazia, parasse e o colocasse-o novamente na travessa, é sinal que ele estava blefando.
O resultado dessa leitura da expressão corporal de Teddy fez o herói vencer a batalha, reconquistar seu bankroll e manter seu pescoço intacto.

Ah, se na vida real fosse tão simples!

A mania de Teddy é um exemplo de reação, expressão corporal, emoção ou hábito que de alguma maneira dá alguma informação real sobre a mão do adversário. Felizmente já há um livro com muitas características catalogadas a respeito das reações físicas dos jogadores de poker. É o clássico “Book of Tells” de Mike Caro. Leia-o atentamente. É um excelente material sobre um assunto difícil e delicado.

Ao invés de copiar o material catalogado por Caro em seu livro, tentarei passar um pouco da minha experiência e dos meus “insights” a respeito do uso da leitura das reações dos meus oponentes. Eu agrupei as reações físicas em três categorias:

1: Expressões Faciais
2: Linguagem Corporal em geral
3: Movimentos das mãos

Dos três, acredito que o “movimento das mãos” é o mais confiável e revelador. Embora muitos jogadores tenham o controle de suas expressões faciais, poucos prestam atenção no que fazem com as mãos, especialmente quando movem fichas para o pote. Enquanto outros jogadores estão prestando atenção no rosto, eu gosto de olhar as mãos.

Basicamente, eu observo se o jogador segura suas fichas com firmeza nas mãos ou de maneira desleixada. Se eu perceber alguma coisa eu prontamente registro a característica do meu adversário com um alto nível de confiabilidade até que alguma evidencia me prove o contrário. Minha experiência me diz que expressões faciais e linguagem corporal são mais traiçoeiras nesse sentido. Eu observo-as, e você também deve fazê-lo, mas eu preciso de um pouco mais de evidências para estar apto a desvendar “trejeitos” dessas duas maneiras do que através do movimento das mãos.

Eu costumo seguir algumas regras quando o assunto é ler as características físicas de meus adversários. Aqui são elas:
1. Se um jogador parece fraco, darei mais credibilidade a alguma reação suspeita. Esse é o senso comum. Um bom jogador irá naturalmente gastar mais tempo pensando a respeito das reações e tentando escondê-las do que um jogador fraco. Então, se eu “pescar” algo que pareça uma reação de algum jogador e esse jogador estiver jogando com um jogo forte, suspeitarei das minhas desconfianças e aguardarei maiores indicações para agir. Mas se eu tiver os mesmos indícios de algum jogador que pareça ser um “pato” perfeito, eu irei agir em cima dele com mais rapidez.

2. Fraco significa forte e forte significa fraco. Esse “insight” vem direto do livro de Mike Caro, que por sinal é o melhor guia na ajuda do desenvolvimento da leitura de reações dos adversários desconhecidos. Quando o ser humano quer esconder suas reais intenções, ele tende a agir da maneira exatamente oposta a real. Basta assistir a alguma mesa final na televisão para percebemos que em quase todos os casos onde os jogadores parecem estar agindo de uma maneira, eles estão agindo na verdade da maneira oposta da real força de suas mãos.

A habilidade de dominar a leitura física de seus oponentes é ainda mais importante se você é um jogador de “money game” que tem uma mesa composta sempre com as mesmas pessoas ou se você freqüenta um clube com certa freqüência aos quais os membros não mudam muito.

Nesses casos, você irá enfrentar os mesmos jogadores diversas vezes e poderá ter a oportunidade de fazer anotações de cada um deles num cadastro pessoal. Se você é um jogador de torneios de poker, a situação é um pouco diferente. Você não irá ver jogadores se repetindo nas mesmas mesas com muita freqüência.

Com a explosão do número de jogadores em torneios, você pode facilmente jogar um torneio grande e não enfrentar nenhum jogador que já tenha jogado contra você. Todos os jogadores sérios de poker tentam obviamente minimizar suas reações. Há poucas maneiras de se fazer isso.

Uma delas é o “teatro robótico”, quando seu rosto se torna uma máscara e sua voz monótona ao menos enquanto a mão está sendo jogada. Com algum treino essa prática é facilmente acessível à maioria dos jogadores.

Outra forma é o “método maníaco”, quando se usa uma série de tiques, contrações musculares, expressões faciais e faz-se um mix de todas elas em um verdadeiro rio de insanidade.

A idéia é oprimir seus adversários com indícios, confundi-los e impossibilitá-los de saber o que está acontecendo. Esse método pode até ser eficiente, mas para pessoas normais é um pouco difícil de ser interpretado.
(Se você passou parte de sua vida em alguma instituição, esse método pode vir naturalmente, sem maiores esforços.)