A Eterna Polêmica - AK


Por C.K


Bom, para esta coluna, vou falar sobre uma conversa que tive outro dia com um amigo,
enquanto discutíamos uma jogada.
Acabou que o X da questão era eu tentando provar que, quase sempre, deve-se jogar agressivamente o AK, em No Limit Hold’em. Vejam se vocês concordam comigo ou não:
Vamos dizer que o UTG tenha dado um raise de três vezes o valor do big
blind. Três jogadores dão fold, você olha suas cartas e... AK. Você tem cerca de
15 vezes o valor do big blind. Como você joga? Muitos jogadores me dizem
que seu “estilo” é apenas dar call e ver o flop. Caso consigam um bom flop, aí
sim, iriam para cima dos adversários.

Eis alguns pensamentos matemáticos que mostram porque essa é uma estratégia ruim: Primeiro, note que um AKo irá fracassar pós-flop em torno de 2/3 das vezes. Levando em conta alguns blefes, e algumas quedas que poderemos ter, arredondando, podemos dizer que o flop será horrível para nós em 60% das vezes.
Depois, vamos determinar que o primeiro jogador a falar tenha em suas mãos uma típica mão de under the gun, o que abrange par de 77 ou maior, AK, AQ ou AJ suited. Se nós conseguirmos um bom flop com o nosso AK, o par de 77, até o par de QQ, irá detestar o flop (a não ser que ele flope uma trinca). Ele irá sair da mão, na maioria das vezes, em torno de 75%, à medida que vir que iremos dar ação à mão e que provavelmente estaríamos com top pair. Os outros 25% ficam para os que tentarem representar um top pair.

Então vamos à matemática. Quando damos call com AK pré-flop, 60% das vezes nós perdemos “apenas” 3 big blinds para ver o flop; 10% das vezes nós conseguiremos um bom flop, e nosso oponente irá dar check-fold. Nós ganhamos 4,5 vezes o big blind (o raise do nosso oponente
mais os blinds). Os outros 30% são quando nosso oponente aposta depois de conseguirmos o nosso flop.
Se você olhar o alcance das mãos que estamos dando a ele, e assumindo que ele irá dar call no raise apenas com uma trinca, um par alto ou um top pair, nós iremos ver que, em cerca de 8% dos flops, ambos acabarão no all in. Nesses flops, nós temos algo em torno de 40% de chance. Se nosso oponente quis ir para o all in conosco, nós somos underdogs para ganhar o pote. Em 22% dos flops ele irá dar fold no nosso raise. Vamos dizer que ele escolha apostar 4,5 big blinds. Nesse caso nós ganhamos 9 big blinds na mão (4,5 da aposta dele, 3 da aposta dele pré-flop e 1,5 dos blinds que saíram da mão pré-flop).

Somando todos os big blinds que podemos ganhar ou perder, em todos os cenários, você descobrirá que dar call com AK contra o raise do jogador under the gun o fará vencer 0,4BB por mão, no longo prazo.
Porém, é uma grande mão. Não estaremos satisfeitos em vencer menos do que um small blind com o AK. Agora vamos comparar um simples call com a jogada que eu recomendo, que é o all in pré-flop. Se nós movermos all in, irei assumir que o jogador under the gun irá jogar fora seu par de 77, 88, 99, AJs, e AQo, mas irá dar call com AQs, AK, e par de TT ou superior. Se olharmos o quanto ganhamos quando ele dá fold, comparado com o quanto perdemos quando ele dá call, descobriremos que, no longo prazo, nós ganharemos 1,2 big blinds por mão, quando formos para cima com o AK. Ou seja, o triplo do que ganharíamos, por mão, se déssemos apenas o call. A maior razão de isso funcionar dessa maneira é que nós temos contra o jogador UTG 45% de chances de ele dar fold pré-flop, depois de entrarmos de all in. Se você não acredita, diga-me, com qual das mãos, que eu pressuponho que ele daria fold, você acha que ele daria call? AQ, par de 99, de 88? Se ele pagar com essas mãos, ainda teremos grandes chances de sairmos vitoriosos, após as cartas serem viradas na mesa. Temos sempre que adicionar a possibilidade do adversário jogar fora a mão, antes do flop.

Vamos dar uma olhada melhor nos cálculos expostos acima. Quando nós damos all in pré-flop, o UTG joga fora 45% das vezes e nós ganhamos 4,5 big blinds. Nas outras 55% das vezes, nós
perdemos um pouco, em torno de 1,5 big blinds. Como você pode notar, a relação é positiva. As vezes em que perdemos são totalmente compensadas pelas vezes em que ganhamos 4,5 big blinds, sem irmos para o confronto. Ainda quando nosso oponente tiver par de TT, JJ ou QQ, nós iremos ganhar a mão por volta de 43% das vezes.
Se nós tivéssemos apenas dado call, nós só ganharíamos a mão em 30% das vezes. AKo tem 43% de chances de ganhar de QQ até o river, mas somente 31% após o flop. Nós precisamos nos dar a chance de conseguir um A no turn ou no river e, caso isso aconteça, ser recompensados e bem pagos por isso.
Nós não iremos ser pagos pelo nosso oponente com um par de 77, 88 ou 99, após cair no flop um A ou K. Por isso é importante dar all in pré-flop. Você pode não concordar com meus argumentos. Pode, por exemplo, dizer que eu ignorei os outros adversários, na mão, a falar depois de você.
Bom, mas eu disse que nós queríamos que todos saíssem da mão, e a melhor maneira de fazer isso é movendo all in. O ponto é que, com mãos em que queremos o showdown, como AK préflop, ou uma queda para straight flush com duas cartas por vir, é importante colocar o máximo de fichas no pote o mais cedo possível. Quanto mais dinheiro tiver no pote, mais difícil de dar fold e mais facilmente você conseguirá o showdown. Então, não seja o tipo de jogador passivo com AK.


Aprenda a amar as palavras “I’m all in”!

Christian “CK” Kruel