"ficela" - Raul Oliveira

Foi mal a semana sem post, porem estava armando uma viagen no feriado e tomou muito tempo conseguir uma pousada no litoral, baratinha, bonitinha e pé na areia...
kkkkkk!

Mas valeu o esforço e agora retornando ao poker...
TRago um artigo interessante para quem joga ao vivo...

Artimanhas do Jogo
(por Raul Oliveira)

Falarei um pouco sobre a "ficela", uma arma importante para induzir seus oponentes a atitudes erradas, a seu favor.
O vasto vocabulário do poker inclui diversas expressões e gírias utilizadas por seus praticantes, seja no poker online quanto no poker ao vivo. Hoje vou falar da "ficela", um termo antigo usado mais aqui no Rio de Janeiro que, em outras palavras, seriam gestos e palavras utilizadas durante uma mão, no intuito de confundir seu adversário. É algo como o "blefe de boca" ou "falinha", quando você diz algo, ou um certo "teatrinho", quando você se posiciona de certa forma ou faz caras e bocas ao pensar. Ocorre apenas no poker ao vivo, já que não existe a possibilidade de ser utilizada no online pela falta do contato físico. Não considero os tells do poker online, como a demora para apostar ou pagar, como forma de ficela. No ao vivo, a ficela torna-se uma arma que, várias vezes, causa polêmicas, mas em muitas outras gera bastante fichas. Isto porque, dependendo da forma como é utilizada, não é vista com bons olhos pelos outros jogadores. Coisas do poker ao vivo!
Com esses artifícios, o jogo de cartas torna-se também um jogo de gestos e palavras, que muitas vezes têm mais força do que as próprias fichas apostadas. Alguns jogadores famosos falam durante todo o tempo, como Mike Matusow, Phil Hellmuth e Daniel Negreanu. Eles usam a palavra como arma durante os torneios e cash games. Nos dois primeiros casos, Matusow e Hellmuth, é mais em forma de intimidação, normalmente questionando e até, em certas vezes, ofendendo os adversários. Já Negreanu usa a arma para obter informações, costumando até perguntar a nacionalidade dos jogadores, e cada detalhe o influencia em suas decisões. Outro exemplo clássico foi o caso de Jamie Gold, que simplesmente falou em todas as mãos de que participou na WSOP 2006, ano em que levou o título do Main Event.
A ficela bem utilizada pode ajudar bastante na maximização das mãos e no sucesso de um blefe. Com certeza, não é um fator determinante para ser um grande jogador live, mas saber usá-la não custa nada. Penso que, para utilizá-la, é muito importante se ter uma leitura do adversário durante a mão, já que vai ser com base nela que você se utilizará das palavras. O complicado, nessa história toda, é até que ponto entra a ética do jogo, na questão. Em alguns casos, as ficelas causam confusões nas mesas.
Um exemplo que presenciei em um money game, e que gerou bastante polêmica, foi o seguinte: o Jogador 1 abriu raise de $30 pré-flop e dois outros pagaram. Abriu o flop com três cartas de copas, o Jogador 1 deu bet de $30 e os demais acompanharam a aposta. No turn veio uma carta preta sem dobrar nenhum par no bordo, o Jogador 1 deu mesa, o seguinte apostou $130, tomou call do terceiro e all in de $600 do Jogador 1. Enquanto os jogadores decidiam o que fazer, o Jogador 1 começou a pedir mais fichas, pedindo outro cacife para continuar jogando na próxima mão. Ou seja, deu a entender aos demais que sua mão não era tão boa assim, que poderia estar perdendo aquela parada, o que levou os demais a pagarem o seu all in. Não havendo mais fichas na frente de ninguém, todos abriram seus jogos antes da virada do river. Quando o Jogador 1 abriu A 5 , o nut flush já no flop, a mesa inteira reagiu indignada, achando um absurdo aquela atitude.
Por isso sempre sou a favor de regras bem estipuladas em todos os tipos de jogos de poker, para que, em situações como essa, ou todos possam falar o que quiserem ou que ninguém fale nada. Ou, caso fale, que as punições estabelecidas sejam adotadas. No online, particularmente, prefiro a regra utilizada pelos grandes sites de poker que, durante um all in, não permitem comentários nos chats. Acho que o Hold’em já é jogo muito bonito pelos seus próprios méritos, e que atitudes como essa tiram um pouco do charme do jogo.
Mas, apesar da minha opinião, em Las Vegas, por exemplo, vale falar durante as mãos e, por isso, ter essa arma como uma carta na manga, em algumas situações, pode ajudar bastante. Agora, por experiência própria, aconselho utilizar algo do tipo, quando quiser ser pago. Pelo que já vi ao longo dos anos, qualquer tipo de fala durante o tempo de pensar do adversário acaba induzindo-o a pagar o seu bet. Claro que isso não é uma regra, e você também pode "ficelar" durante um blefe, mas na maioria das vezes funciona quando se quer tomar call. Então, o conselho que deixo aqui é: caso tentem fazer isso com você durante uma mão decisiva, não tente decifrar "pegadinhas". Respire fundo, volte à jogada até o pré-flop, raciocine, e aí sim tome sua decisão, deixando as falas em segundo plano. Deixar-se levar por comentários durante a mão, na maioria dos casos, leva-nos a cometer erros.
Artigo de Raul Oliveira, publicado na Revista Flop de Janeiro/2008.