HEADS-UP


Artigo de Christian Cruel ,
publicado na Revista Flop de junho/2007.

Jogar em heads-up é a forma mais subjetiva em que o Hold'em se apresenta, e por isso vou explicar aqui o que penso quando estou nesta situação e como gosto de jogar. Notem que tudo aqui descrito é a forma como eu me sinto bem em heads-up, e não o que é mais certo ou errado de se fazer.
Como sabem, ou deveriam já saber a essa altura, no poker não há uma verdade absoluta ou uma só maneira de estar certo ou errado.
Nos últimos meses joguei cerca de 400 heads-up, principalmente na faixa de 1K, e meus resultados têm sido muito bons. Foi assim que tive a idéia de compartilhar com vocês esta coluna, até porque jogar em heads-up envolve muita lógica e raciocínio, e isso nós adoramos, não é mesmo?
Um fato incontestável é que, para se jogar bem um heads-up, é preciso rapidamente identificar o estilo do seu adversário e, em função disso, traçar a sua estratégia. Também é importante saber que não existe uma cartilha para o heads-up, portanto você terá que experimentar bastante e essa experimentação aumentará o seu raciocínio e o tornará mais rápido. Em conseqüência
de tudo isso, você passará a diminuir seus erros.
Outro fator fundamental no heads-up é o valor da High Card: mãos como Ax e Kx passam a ter um valor muito mais alto do que teriam em um jogo de mesa cheia. Em qualquer heads-up existem duas situações de jogo: em uma você está no small blind (SB), sendo o primeiro a falar antes do flop, e o último depois dele. E na segunda, quando você é o big blind (BB), que age depois no préflop e antes após o mesmo. Das duas, a mais difícil é a primeira, já que você faz sua jogada sem ter nenhuma informação inicial. Quando se está na posição de BB, sua jogada no pré-flop passa a ser uma resposta à jogada do adversário, o que torna a análise de situação um pouco mais simples e menos arriscada.

Como falei antes, identificar o estilo de seu adversário é essencial: para cada tipo de jogador deve-se adotar uma forma de jogar, sem precisar fugir da essência do seu jogo, mas sim ajustá-la em função do outro. Vou dividir os adversários em três tipos e discorrer sobre qual encaro ser a melhor estratégia contra cada um dos tipos apresentados.

Tight– Dá fold em 50% ou mais dos SB e em 80% ou mais dos BB quando a mão vem com raise.
Acho que esse é o melhor jogador para se jogar contra, já que a leitura fica simples e as decisões são mais fáceis. Nesse caso, acho que você deve jogar de forma agressiva, mas sem entrar de all in nas mãos, uma vez que ele só pagará quando estiver com uma mão muito forte. Penso que um raise
de 2,5BB é suficiente contra um jogador desse tipo. O cuidado a ser tomado é quando se está no BB, já que mãos consideradas boas num heads-up perdem um pouco do valor contra esse estilo de jogador. A estratégia a ser tomada, ao meu ver, é espremê-lo contra a parede e ir tomando as fichas aos poucos. Quando entrar em uma proporção de fichas com cerca de 30%x70%, tanto para um lado quanto
para o outro, acho que deve-se entrar de all in nas mãos já que, por se tratar de um jogador tight, o saldo se torna positivo. Isso, é claro, nas mãos em que você decidir jogar, não em todas.

PassivoQuase não dá raise, mas completa quase toda mão quando está no SB e paga os raises baixos quando está no BB.

Nesse caso, valorize mais as mãos com maior poder de aposta no pósflop, como por exemplo os jogos suiteds e os connectors. Quando vier com mãos fortes, dê um raise baixo; não complete apenas, já que na maioria das vezes ele irá pagar seu raise e maximizará sua vitória. Tenha paciência contra esse tipo de jogador e aproveite também o fato de ele gostar de ver flops quando você tiver mãos ruins.
Como ele geralmente não aumentará muito pré-flop, você também ganha a chance de ver flops grátis ou muito baratos, e o jogo pós-flop se torna uma das suas principais armas contra ele.

Agressivo – Dá raise em 80% das vezes que está no SB, sendo algumas de all in, e volta re-raise em 40% ou mais, nas vezes em que a mão vem com raise.

Nesse caso, quando você estiver no BB, o melhor a fazer é esperar uma mão boa para decidir o torneio. No SB, é melhor dar um raise com possibilidade de volta quando tiver uma mão boa e um raise forte ou até mesmo um all in quando tiver uma mão boa com um High Card ruim, tipo 89s ou TJo, já que essas mãos são boas para se decidir um torneio, mas ruins para se pagar um all in.
Esse é o tipo de oponente mais perigoso, aquele que fará com que o heads-up dure apenas alguns minutos. Saiba que também não adianta esperar muito até encontrar a mão perfeita contra ele, já que ele atacará seus blinds incessantemente. Como expliquei, escolha uma mão sólida e o ataque de volta, assim ele tende a dar uma leve recuada e você pode aproveitar um melhor momento para decidir. Se ele não recuar, e muitos não o fazem, estude bem a melhor oportunidade e dê a ele o que está pedindo: entre em uma mão de all in pré-flop, desde que tenha escolhido boas cartas para o embate.

Em situações de heads-up, às vezes é mesmo inevitável a decisão paciente que você pode preferir. Por isso digo que cada experiência adquirida jogando heads-up certamente trará resultados futuros para o raciocínio do jogador. Não despreze as oportunidades de praticar nessa situação – entre em minitorneios heads-up ou sitand- gos e treine constantemente.

Como disse, esse é apenas um pequeno sumário do se que passa na minha cabeça quando jogo um headsup, mas é uma bela linha de estratégia a ser planejada. Dependendo do seu estilo, você pode usar minha estratégia como base e adaptar em cima do seu jogo, chegando a encontrar o seu próprio estilo vencedor para situações de heads-up.

Um fator muito importante nos heads-up, para mim, é a pressão, e vou dar uma dica aqui que considero muito valiosa, como no exemplo :
Você tem 2.000 fichas contra 1.000 fichas do seu adversário e os blinds já estão em 50/100.
Está sendo um headsup demorado...
Nesse tipo de situação eu vou dar all in todas as vezes em que tiver um K, um A, um par ou duas cartas acima de nove!

Mas por quê?

Porque quando você tem essas cartas, elas são favoritas contra jogos aleatórios, que geralmente contém uma ou duas cartas abaixo da média. Pense sobre isso!
É uma grande dica!

Além disso, deve-se levar em conta em que tipo de heads-up você se encontra: é um heads-up de final de sit-and-go, é um sitand-go ou torneio de heads-up, uma final de um grande multitable ou até mesmo um cash game?

Existe muita diferença entre todos esses casos, seja em relação aos stacks e blinds ou até mesmo quanto ao estado de cansaço físico e psicológico em que você e seu adversário se encontram.
Cada caso desses pode exigir pequenos ou grandes ajustes em diversos fatores de sua estratégia, e a cada heads-up jogado você irá adquirir mais experiência para poder tomar suas decisões e realizar os ajustes necessários para cada situação.
Boa sorte, galera, e, como sempre digo, pratique e seja um bom jogador em heads-up pois, mesmo quando você está jogando em uma mesa cheia, as jogadas geralmente terminam no enfrentamento entre você e apenas outro jogador!
Um grande
Christian “CK” Kruel