Jogando na Bolha - por CK


Essa semana em que jogava este torneio e acabei sendo o campeão, houve uma jogada que considero decisiva. Era o momento de pressão no bubble, entre os 31 finalistas, e é uma jogada importante para se entender o que significa jogar de forma agressiva na hora da bolha – a posição de eliminação mais temida por todos.

Minha postura neste tipo de torneio é exatamente contrária, por isso acabo sendo eliminado em 32º ou 33º, muitas vezes. Sigo sempre buscando o título, pois acredito que, esta hora com blinds muito caros é a hora decisiva para se acumular fichas e tirar proveito da passividade da maioria das mesas e dos jogadores. Aliás, esta é outra característica deste torneio: a maioria dos jogadores são bem passivos.

Então, os blinds eram 800/1.600 com antes de 50, e eu tinha cerca de 15K em fichas, o que me
deixava numa situação meio apertada no torneio. Todos dão fold até a minha vez, que me encontro no small blind e recebo K5. Apenas completo os 800,por dois motivos:

1- A minha imagem é de ultraaggressive na mesa, como quase sempre.
2- Eu queria jogar pós-flop com o big blind, pois ele era um jogadorextremamente loose e nos últimos levels vinha perdendo todas as suas fichas.


Sendo assim, meu adversário dá apenas check e temos o flop: A62.

Na minha opinião, dificilmente o big blind teria um A, pois na maioria das vezes ele daria raise pré-flop contra apenas um small blind que tenha completado. Então disparei 1.600 e o big blind me deu um raise mínimo para 3.200, no total.
Aqui eu penso: ou ele está realmente forte ou ele não tem absolutamente nada, com esse raise. A segunda possibilidade foi a que escolhi, pelo perfil do big blind na última meia hora do torneio e, assim, empurrei all in, pois se ele tivesse um flush drawteria que pagar caro. Ele pensou e deu fold.
Esta jogada não tem nada de mais, mas exemplifica bem o conceito de pressão na bolha, pois eu acho que os jogadores que jogam bem na hora do bubble têm muitas chances de chegar bem namesa final e assim aumentar as suas chances de serem campeões.

Num torneio como este, com 228 inscritos, onde 30 jogadores chegam in the money, o bubble será o jogador que sair na 31ª posição. Mas, com certeza, a hora de jogar bem o bubble começa bem antes disso! Entre os 50 finalistas, a pressão para chegar in the money já começa na cabeça de todos, e eu acredito que a partir daí você deve tentar tirar proveito dessa situação. Para isso, uma coisa é fundamental: ter uma boa leitura dos jogadores da sua mesa.

Nesse torneio, por exemplo, eu estava gigante de fichas, quando éramos 50, com mais de 35K em fichas. Como exemplifiquei anteriormente, quando estava entre os 31, eu tinha apenas 15K. Isso não foi fruto de nenhuma bad beat, e sim de timing errado nas minhas escolhas com a agressividade seletiva. Perdi 20K em fichas, pois joguei muitas mãos e tive escolhas infelizes no pós-flop, contra os jogadores errados, mas a jogada exemplificada anteriormente, quando entre os 31, me deu confiança suficiente para buscar a primeira colocação.


A “agressividade seletiva”, na minha opinião, é um conceito fundamental quando bem aplicado na pressãodo bubble, e irá gerar muitas fichas extras. Os jogadores que você vai tender a encarar, quando decide pressionar e ditar o ritmo do jogo na sua mesa, não serão escolhidos pela quantidade de fichas que têm, mas sim pelas atitudes que vêm tendo na sua mesa. Basicamente, você deve definilos como passivos ou agressivos e, dentro de cada um destes grupos, ainda definir o estilo de passividade ou agressividade. No meu estilo de jogo, logicamente é mais fácil jogar contra os passivos, mas isso não me impede de jogar, com quantas fichas for preciso, contra os super-agressivos, também. Vejam a jogada que eu fiz em outro momento de bubble, mas agora o bubble para a mesa final, onde estariam os 10 finalistas. Neste momento éramos 12 no torneio, em duas mesas de seis jogadores.

Um jogador tight, mas bem agressivo quando participava das mãos, abre raise de 8.500 à minha direita. Os blinds eram 1.500/3.000, eu tinha JJ e pensei em tentar tirar o máximo de valor possível desta jogada, pois se eu desse reraise ou all in pré-flop, provavelmente teríamos um coin flip. Como os flops tendem a ter cartas abaixo de um valete, em cerca de 48% das vezes, optei por apenas dar call e torcer para que nenhuma overcard aparecesse no flop, pois meu oponente, sendo o primeiro a falar na jogada e pelo estilo agressivo quando participava das mãos, apostaria em qualquer flop.
Sendo assim, temos as três primeiras cartas: T 2 6.


Como esperado, o meu adversário, que tinha cerca de 32K restantes em fichas, aposta 14K. Eu, sem hesitar, empurro all in de mais de 45K. Meu adversário pensa e paga com AT. O turn e o river não o ajudam e eu levo um belo pote.


Este exemplo também exemplifica bem a pressão no bubble, pois acredito que a maioria dos jogadores voltariam all in pré-flop, o que logicamente não é nenhum erro. Mas ao optar por dar apenas call, acredito ter exercido um tipo de pressão, já que você está arriscando o seu torneio no seu feeling e buscando tirar o máximo de valor da jogada, sem medo de que seja eliminado, se por acaso der errado.

Como já disse, este não é o sentimento da maioria dos jogadores ao seu lado, tenham certeza. Neste caso eu realmente estava certo e, se voltasse all in pré-flop, com certeza eu não tomaria call do adversário com AT.

Estou, como todos nós, querendo aperfeiçoar o meu jogo a cada dia que passa e em todas as variantes que considero importantes.

Christian “CK” Kruel
Nascido no Rio de Janeiro, é um
dos pioneiros do Texas Hold'em no Brasil,
como criador do site Clube do Poker.