Leverage - Alavanque seu jogo - leo bello

Leverage - Alavanque seu jogo
CardPlayer Brasil - Edição 2 (Agosto 2007)

No artigo da edição passada, conversei com vocês sobre jogadores que acabavam não controlando o quanto apostavam em um pote no início de um torneio, e saíam após jogar uma única mão, com um resultado infeliz. Essa habilidade de controlar o pote é fundamental para conseguir deslanchar no torneio e não se arriscar em demasia.

Ao mesmo tempo, este controle irá demandar um domínio maior do jogo no período pós-flop, pois o jogador, para ganhar diversos pequenos potes, terá que se expor um pouco mais (jogar mais mãos para atingir o objetivo de dobrar suas fichas) e desenvolver uma leitura aguçada da textura do flop para saber quando apostar. Acredito que o conceito ficou bem entendido, mas como aplicar na prática? Existe um método para dosar suas apostas controlando o pote? Howard Lederer, em um artigo publicado no livro recém-lançado do Full Tilt sobre estratégias para poker, escreveu sobre um conceito que, somado ao controle de pote, revela um dos principais segredos dos grandes jogadores.
O nome utilizado em Inglês é leverage, que em uma tradução livre significa ter “alavancagem”.

Este termo é utilizado também no mercado financeiro, em mais uma das muitas semelhanças entre as negociações de valores e o poker. Numa explicação resumida e fácil de entender, seria fazer apostas constantes e relativamente baixas, que aumentam a cada “street” (rodada de apostas – pré-flop, flop, turn e river).

Você faz a aposta no flop em um tamanho constante, variando entre metade e 2/3 do pote, e seu adversário sabe que, se chamar sua aposta, precisará enfrentar uma aposta maior no turn (entre metade e 2/3 do pote atual), e ainda maior no river. Seus adversários perceberão se você estiver realizando essas apostas como um padrão, e terão sempre que avaliar se querem jogar a mão para enfrentar apostas cada vez maiores. A ameaça de apostas crescentes é que lhe dá a vantagem na mão em que você utiliza a leverage.

Compare essa estratégia com a de um jogador que age da seguinte maneira: Blinds 25-50. 1º nível de blinds de um torneio que começa com 3.000 fichas. Jogador A no cut-off aumenta para 350 após um limper. Todos dão fold e o limper chama. O pote tem 775.

O flop vem A,T,5 . O limper dá check e o jogador A aposta 1K.

Na psicologia deste tipo de jogador, ele aposta 1000 por ser uma aposta que considera forte, muitas vezes utilizando uma ficha de valor alto para intimidar o adversário. Só que para surpresa do jogador A, o adversário que entrou de limp dá call em sua aposta. Aí reside o problema. Após subir 350 pré-flop e apostar 1K no flop, sobraram apenas 1650 em fichas para o jogador A, e esse valor é insuficiente para fazer o adversário largar a mão no turn ou no river. Na realidade, se ele repetir a aposta de 1K no turn, não terá nem isso para apostar no river. E se apostar tudo no turn, o adversário terá que pagar apenas 1.6K para ver duas cartas, em um pote que já teria quase 4.5K, ou seja, 3 para 1 em odds. Como regra, você deve sempre fazer apostas maiores a cada street, nunca repetindo a aposta anterior. Para isso é preciso controlar o que tem no seu stack.
Imagine que o jogador A tinha QQ e o jogador B (limper) tinha A-7. Como o kicker é fraco, ele poderia até largar a mão no turn e no river, se a aposta fosse grande em relação ao que há no pote e dependendo das cartas que aparecessem.
Por exemplo, se no turn viesse um J , deixando o board com As,Ts,5h,Js , o jogador com A-7 poderia ficar com medo do flush ou de dois pares, largando seu par de ases com kicker 7.

Esse é um dos maiores erros no poker, confundir agressividade com falta de controle do pote, e perder o seu leverage (oportunidade de assustar o adversário com apostas crescentes). Vejamos este pote, jogado com os conceitos de controle do pote e leverage em mente. Blinds 25-50.

Jogador B dá limp e o jogador A aposta 175. Todos caem fora e o jogador B chama. O pote tem 425. Após o flop, o jogador B dá check e o jogador A aposta 250 (entre metade e dois terços do pote). O jogador B pensa e paga.

O turn traz o J. O jogador B dá check novamente com seu par de ases e kicker no 7. O jogador B então aposta 600 (o pote tem 925).

Você agora colocou uma dúvida no seu adversário: ele sabe que terá que chamar 600 agora (ele já gastou 175 + 250 = 425) e ainda pensa que no river talvez tenha que enfrentar uma aposta de mais de 1K, sendo que nesse momento ele ainda tem 2575 fichas, ou seja, há espaço para dar fold e continuar no jogo em uma mão mais segura.

70% dos bons adversários correriam já nessa aposta. As apostas de 175 – 250 – 600 – 1.3K dão essa idéia de perigo crescente e constante.
Você faz apostas que têm um efeito bom psicológico sobre o adversário, além de não colocar em risco seu stack, e sempre ter a oportunidade de não apostar no turn ou river, se não gostar do que viu no board.

Muito mais se aplica ao conceito de leverage, que é como jogadores como Gus Hansen, Daniel Negreanu e Phil Ivey ganham vários potes. Eles colocam o tempo todo pequenas apostas em que não se arriscam, mas com o aviso que a aposta vai crescer em seguida.

Desta maneira, apostam praticamente em todos os flops quando a textura e situação ajudam, independentemente do que têm nas mãos. Suas cartas passam a importar pouco na hora de apostar. Elas voltam a ter importância quando eles encontram resistência (um call ou um raise) e aí eles usam a experiência para conseguir fugir de uma mão em que não têm jogo ou para ganhar todas as fichas dos adversários quando têm alguma coisa.

Para o leverage funcionar, as apostas têm que ser as mesmas, não importando se você tem AA ou está em um blefe ou com cartas baixas como 4-5 do mesmo naipe. O importante é o padrão de apostas. Eu não poderia terminar esse artigo sem falar de um jogador que é mestre em aplicar leverage e pressão, e fez grandes profissionais tremerem nas bases, sem saber se ele apostaria, aumentaria ou sairia da mão em cada jogada da mesa final do evento 49 do WSOP 2007.

Leandro Brasa fez história e nos encheu de orgulho com o seu 4o lugar no 4o maior evento da história do poker mundial, batendo mais de 3100 jogadores.

Leo Bello