SAIA DA ZONA DE CONFORTO


SAIA DA ZONA DE CONFORTO
Tome novos rumos no poker, varie o seu jogo e veja os resultados
Materia publicada na revista "FLOP"


Olá minha gente, tudo bem?
Então, pensei bastante em qual assunto falar nesta coluna. Não sou muito adepta de falar de estratégia de poker porque acredito que cada um tem o seu estilo e sabe o que funciona melhor para si, então sempre tento manter minhas colunas mais direcionadas a um tipo de “filosofia”, mais do que qualquer coisa (até porque não me julgo capaz de ensinar nada para ninguém). E foi pensando exatamente nisso (que cada um tem seu estilo de jogar) que me veio a idéia de falar da zona de conforto. Todos aqui sabem que a minha zona de conforto é a minha cama e raramente levanto dela (hehehe). Mas, falando de jogo, cada um tem a sua “zona de conforto”, que é onde se sente bem. Seja um buy-in de um torneio, seja uma mão que ele gosta de jogar, seja seu jogo pré-flop ou pós-flop, seja MTT, cash, SNG, não importa – cada um sabe onde pisa e onde se sente melhor (e, se não sabe, deve tentar achar). E estão todos certos em seguir “deitados” no conforto do bem-bom, onde não tem muita surpresa e você sabe bem qual o pior que pode acontecer. Mas que tal explorar novas áreas onde o seu conforto não seja tão grande?
Esta semana eu estava trabalhando com uma pessoa nova, no jogo dele, e um dia falei: “cara, você joga tanto na sua zona de conforto que não deixa margem nem pra se surpreender cosigo mesmo. Está se tornando robótico e previsível”.
WOW! Nunca falei assim com ninguém, mas, juro, se eu falei é porque ele precisava ouvir. Ele vinha jogando há três anos os mesmos jogos, nos mesmos valores, as mesmas mãos das mesmas formas, e, é óbvio, obtendo os mesmos resultados (com um ROI bastante razoável, nada demais, nada de menos, o que já é uma coisa excelente no poker). Atenção, eu não estava de forma alguma falando mal do jogo dele, mas é que estávamos fazendo uma session juntos exatamente para procurarmos tendências, então dei a minha opinião honesta quando vi esta, e era o que ele queria. Na hora ele entendeu o que eu quis dizer e, desde então, vem “experimentando”. Os resultados têm sido bastante interessantes, para dizer o mínimo.
A verdade é que quando atingimos uma zona de conforto no nosso jogo, dificilmente queremos sair dela, por motivos óbvios – se algo não está quebrado, para que mexer? Mas quando você abre uma frente no seu bankroll (sempre administrando-o de forma inteligente, e, por favor, me ensinem!), você deve, como exercício, sair um pouco da sua “zona de conforto” e experimentar para tentar se surpreender, porque são nas horas de maior “perigo” ou “risco” que você realmente tem a chance de ter uma visão, ou aquele estalo eufórico de “Eureca! Descobri a fórmula da Coca-Cola” ou “It’s alive!” e se surpreender, e até de testar exatamente onde você está e se está pronto para o próximo passo. Isso não quer dizer aumentar o buy-in, de forma alguma. Isso quer apenas dizer tentar jogar de forma diferente, que esteja 100% fora do que você está acostumado, e ver se tem adaptação ou algum “rompimento de barreira” que antes não parecia ter.
Mas como fazer isso? Ah, existem várias formas... Experimente um torneio onde o stack inicial é maior, ou os blinds mais lentos, procure tapar as cartas do seu monitor uma vez por semana num torneio bem barato, que não vá afetar seu bankroll, e jogue apenas em cima da leitura dos oponentes e em cima de situações. Experimente escolher duas cartas do baralho (no meu caso, quando estou fazendo esse exercício, sempre o 5_e o T_) e, sempre que receber uma dessas cartas, você dê raise ou re-raise (para randomizar seus raises e blefes). Tente jogar um torneio de um jogo que não é a sua especialidade (como Razz, Stud, ou tente um HORSE de vez), para pensar as mãos de formas diferentes, e mil outras maneiras. Atenção: nenhuma dessas opções de “experimentação” está certa ou errada, e cada um pode fazer seu próprio sistema, mas escolha algo que você nunca tenha feito antes e experimente – tendo ou não sentido. Você pode se surpreender com os resultados que consegue nas mesas. Não sei muito, mas uma coisa eu tenho certeza: para atingir um nível acima, no poker, o mais importante é jogar fora das cartas. Já repararam como um jogador bom, quando está contando uma mão, raramente fala as cartas que tinha ou, se fala, é a última coisa que ele fala da mão? Pode reparar. Um jogador bom falando de uma mão é assim: “Estávamos perto da bolha, o UTG+1 tinha 80K no average de 55K, nos blinds 1K-3K com antes de 300, e ele fez tudo 7,5K. O midlle position1 com 61K deu flat call e eu vi que nenhum dos dois queria jogar pots grandes há mais de quatro órbitas. Eu tava no small blind com 45K e fui all in”. A mão dele é de última importância. Aqui ele está claramente contando de uma “situação” no poker, e é exatamente isso que o poker é: um jogo situacional, em que a cada momento, versus cada ser humano diferente, a situação te obriga a fazer algo totalmente diferente que você faria em outra situação. É como você three-betar all in com 33 em um raise de um midlle position que tem estatísticas altas de fichas colocadas no pot, com tendências de dar light calls versus fazer o mesmo movimento contra um jogador que tem estatísticas baixas. Não pode! A situação não é a mesma, e se você não está prestando atenção nisso, você (e eu) não está focado no que importa e, por isso, está jogando de forma robótica e previsível. É claro que a longo prazo isso vai aparecer no seu ROI como algo não-positivo.
Ai, será que saí numa tangente? É possível... Minha mente vaga... Mas o que estou querendo dizer é que, quando saímos do lugar onde nos sentimos mais confortáveis e somos expostos a novas situações, imediatamente ficamos mais alertas e espertos, com chances de grandes descobertas, e isso nos faz abrir mais os olhos e vermos absolutamente tudo o que está se passando à nossa volta, não só com os oponentes, mas com nós mesmos, e isso cria, tanto no poker quanto na vida, uma bela oportunidade de nos surpreendermos com coisas que não nos julgávamos capazes de fazer – e isso é muito valioso! Experimente e se surpreenda, você pode descobrir coisas incríveis!

Como Stephen Hawking disse:

“Algo extraordinário está sempre prestes a acontecer”.

GL e nos vemos pelas mesas do PokerStars.

Maria Maridu Mayrink