Planejamento traz resultados

Planejamento traz resultados

CardPlayer Brasil - Edição 7 (Fevereiro 2008)

Por Leo Bello


Neste primeiro trimestre de 2008 terminei de escrever o meu segundo livro, que deve chegar às livrarias até o meio do ano. O objetivo principal foi colocar um conteúdo mais avançado que o do primeiro livro.

Mas, o que pode ser considerado “mais avançado”? Conceitos? Teoria? Prática?



O desenvolvimento de um jogador de poker, e até mesmo o processo de evolução que transforma um amador num profissional ou um iniciante em um jogador avançado, é entremeado de melhoras em vários campos:

entendimento mais aprofundado da psicologia e dinâmica do jogo, habilidade de leitura, desenvolvimento de técnicas, experimentação, controle e disciplina, e muita prática.



A própria decisão de dedicar tempo para se aprimorar é algo difícil e importante. Ao ler o seu exemplar da CardPlayer Brasil ou o Blog do antunes você está procurando mais do que diversão. O principal foco é a informação – o que posso aprender nos diversos artigos e usar no meu jogo. Para escrever certas partes do livro, eu mesmo resolvi fazer experiências. Foi assim que, em dezembro de 2007 e janeiro de 2008, dediquei-me apenas aos cash games na internet. Apesar de sempre ter sido um jogador que, no ambiente online, trabalhava mais cash games do que torneios, resolvi fazer um experimento controlado, pautando o meu jogo em parâmetros pré-estabelecidos e disciplina. Por exemplo, tomei algumas decisões que aplicaria nesse período. Jogaria apenas um único nível em dois sites apenas. Escolhi o $2/4 pois conseguiria jogar múltiplas mesas e sempre teria jogos disponíveis. Ao mesmo tempo, limitei o número máximo de mesas simultâneas a quatro. Todas as mãos, sem exceção, seriam capturadas em tempo real pelo Poker Tracker e eu usaria o Poker ACEHUD para ter as estatísticas dos adversários na minha tela. Não é meu objetivo falar dos programas neste artigo, mas o uso dessas ferramentas no ambiente online é quase imprescindível para se conseguir uma vantagem. Até porque, independente de você aprender a utilizar essas informações, seus adversários estarão usando contra você.

Tomei decisões em relação ao jogo:



- Era proibido entrar de limp:

quando um jogador faz isso no início ou no meio da mesa, está praticamente gritando para todos que tem um par médio ou pequeno. Eu optei por jogar esses pares, mas sempre com raise, principalmente sendo o primeiro a entrar no pote. A exceção seria se eu estivesse em uma mesa com muitos reraises pré-flop: nesse caso, faria uma seleção maior, e só jogaria esses pares em posição. Ao deixar de dar limp, percebi que colocava a pressão nos meus adversários. Muitos potes foram ganhos com raises pré-flop, já que o experimento todo foi feito nos chamados full rings. O resultado disso foi um percentual de pré-flop raises (PFR%) muito próximo ao meu VP$IP (percentual de vezes que entro em uma mão, colocando fichas no pote de forma voluntária, ou seja, não sendo blind).



- Restringir meu range pré-flop:

jogava 90% dos pares de qualquer posição, mãos como AK, AQ, AJ e AT, ou alguns suited connectors em potes sem muita ação. Limitava ao máximo jogar Kx ou Qx. Com esses parâmetros iniciais, o meu VP$IP desceu para 11.89%, em outras palavras, eu só joguei 11% das mãos, com raise pré-flop de 8.34%.



- Não pagar reraise:

nos níveis mais baixos de cash game, é raro o jogador blefar com um reraise. Se der fold todas as vezes que alguém voltar reraise, e você não tiver um jogo muito forte – principalmente pós-flop – não perderá dinheiro, pois mais de 80% das vezes você realmente estará diante de um jogo monstro. As poucas ocasiões em que se pega um blefador não compensam o dinheiro perdido nas outras vezes.



- Ser o agressivo e aumentar meu fator de agressividade:

assim sendo, evitava call em apostas pós-flop, e procurava fazer o máximo de raises ou apostas. A quantidade de folds que você dá não entra para a análise do fator de agressividade, que é calculado dividindo-se a soma do número de vezes que deu bet ou raise pelo número de vezes que deu call. Se o resultado for acima de 1,5, você é um jogador agressivo; abaixo disso, passivo. O ideal é que esse número esteja acima de 2. O software Poker Tracker calcula todas essas estatísticas não só para você, como também para seus adversários. Outro aspecto muito bom é que em um dos sites que escolhi, o Full Tilt, o programa permite o datamining, ou seja, abra várias mesas nas quais você não está jogando, e o PT carrega as mãos dos seus adversários. Assim, eu saía de casa e deixava 16 mesas abertas no Full Tilt durante horas, pegando estatísticas dos adversários de NL2/4 que eu iria enfrentar depois. No meu banco de dados, o número de mãos jogadas por adversários chegou a ser maior que o das minhas próprias.



- Limitar minhas sessões a um tempo pré-estabelecido.

Esse período não era uma regra, apenas um guia. Coloquei 90 minutos como objetivo para uma mesa. Entretanto, se sentisse que uma mesa estava fraca, muito tight, ou que minhas cartas não estavam boas, podia encurtar a sessão – assim como aumentá-la, caso estivesse lucrando bem. Mas sempre mantendo os 90 minutos como guia, para não ficar cansado demais com uma sessão muito prolongada e, ao mesmo tempo, não entrar sem estar preparado para jogar pelo menos o período planejado. Em teoria, os resultados desse meu experimento seriam o que menos importava, pois o foco que queria passar ao leitor era a estratégia. Estipulei um objetivo (ter rendimentos superiores a 6 PTBB/100 de 1º de janeiro a 31 de janeiro de 2008), parâmetros (jogar só NL2/4, 2 sites, sessões de 90 minutos, usando softwares estatísticos), pré-defini meu comportamento em diversos aspectos do jogo (nível, sites, tempo das sessões, período do experimento, captura prévia de mãos dos adversários), estatísticas que pretendia melhorar (diminuir o VP$IP, aumentar o PFR% e aumentar meu fator de agressividade) e, principalmente, disciplina para me manter no plano.



Corroborando a teoria de que traçar uma estratégia e ter disciplina é importante, meus resultados acabaram sendo melhores do que eu imaginava. Vale dizer que a quantidade de mãos jogadas foi relativamente pequena e que eu simplesmente poderia estar em uma boa sequência de cartas – ainda assim, achei o resultado significativo. Foram 10.224 mãos jogadas, com 10.37 PTBB/100. Mas volto a ressaltar: o importante aqui não é falar dos resultados, e sim da necessidade de planejamento.



Ao seguirmos algumas regras básicas, jogando sem muitas firulas, sendo agressivo, escolhendo bem as mãos e evitando os adversários que mostram força, vemos que o poker online pode ser lucrativo.

Para mais discussões sobre cash game, aguardem o novo livro que logo estará disponível para todos.

Até lá, quem quiser trocar idéias pode escrever para

leobello@nutzz.com.br.